domingo, 19 de julho de 2009

chuva no oceano





As luzes continuavam passando rápido pelas laterais dos meus olhos. Era a única coisa que eu sentia naquela velocidade e na escuridão. Eu não reparava em nada, nem mesmo na velocidade, eu só queria estar ali, correndo escuridão a dentro. Solidão nunca me cortou antes, e não ia ser agora que eu ia deixar me machucar. Quando eu fixei meus olhos em alguma coisa finalmente, não era nada inesperado, nada que eu não quisesse, nem nada que me fizesse sentir melhor, apenas pequenas luzes brilhantes na estrada à minha frente. Chuva novamente. Era impressionante a forma como ela me acompanhou esses dias. Em certas horas eu penso ser como as nuvens da chuva, andando sem uma direção ou lugar especifico para chegar. Apenas empurrado por uma nova corrente vinda de algum lugar. Uma corrente que machucava e arrancava um pouco de mim, aos poucos. Mas eu não queria pensar nisso. Só queria ir pra longe, até não ter mais pra onde ir, até não conhecer mais os caminhos de volta. Até...

“Eu me sinto olhando para um oceano, que eu teria de nadar borda até borda até que eu pudesse descansar de novo.” Li isso em algum livro que comprei em qualquer livraria em qualquer cidade (nomes definitivamente não são coisas que minha cabeça registram), e a frase ficou martelando em minha mente, mas há uma diferença, eu não vejo lugar para descansar no final. Talvez vida real seja o que eu mais evito. O que eu mais queria é que houvesse um final para descansar.

Com a pouca luz vindo do céu eu procurei adivinhar um horário, mas nuvens negras não dão muita noção de tempo. Mas definitivamente não importava, senti minhas pálpebras pesando e a visão aos poucos ficando pior, meu corpo implorava por descanso. Estacionei em um campo aberto, sem a menor noção de lugar, e isso também não importa. Agora nada mais importa. Agora não existe. Não tem mais nada pra importar. Não tem mais lugar pra voltar. Não tem mais ninguém para quem voltar. Eu alcancei o meio. Já posso me afogar.