domingo, 22 de novembro de 2009

acinzentadamente




Olhando o relógio, nem sei que horas são, ele já está parado a muito tempo e só agora acho que eu realmente sentí necessidade de consertar. Talvez porque só agora eu tive tempo para notar ele, mas eu acho que vou deixar assim por mais algum tempo.
Tempo...
Quanto tempo eu já estou aqui esperando eu não sei. Mas eu não me importo , eu não estou reclamando, tem certas coisas que eu aprendi a conviver com elas, a espera, o tédio, a solidão, são coisas que se aprende a conviver. E eu não me importo mais com isso.
Mas eu queria aprender a conviver com a desconfiança. Vinda de todo lugar e de toda forma, até das formas que nunca deveriam estar lá.
Penso nas vidas que cercam a minha, como será que estão todos nesse momento, será que alguém também está pensando na minha vida?
Tão escura a noite lá fora, e uma luz acesa ilumina a minha árvore amarela.
Amanhã começa minha vida monótona de novo, adeus relógio parado, adeus árvore amarela, é tão impressionante como isso que chamamos de viver nos faz deixar de ver a vida. Quando eu era criança eu costumava brincar a tarde toda, notando cada mudança de tempo, cada objeto mudado de lugar, cada cor de borboleta nova no jardim. Meio-dia eu ia olhar a flor-do-meio dia, quando ela estava aberta eu ficava conversando como se ela fosse uma amiga. A planta que dava a flor-do-meio-dia morreu, e eu não ví, a vida não me deixou ver. E o tempo eu olho na meteorologia, os objetos eu mesma mudo de lugar (e nunca sei onde estão) e as borboletas desapareceram por causa da poluição.
E minha vida, (que para muitos era solitaria) mas que eu amava tanto, ficou cinza, cheia de gente, que pisotearam tudo e tudo ficou desbotado.
E agora eu estou olhando pra uma tela, com palavras tristes, ouço sons tristes e eu estou esperando o que eu sei que não vai chegar, depois eu vou, tomo um banho, durmo, acordo para um dia movimentadamente acinzentado. Cheio de brigas, desconfianças, medos, esperas, risos ... risos tão acinzentados que eu tenho vergonha de rir. E todos dizendo que isso é o bom da vida.
Eu preferia viver minha solidão graciosamente doce e bonita.