domingo, 20 de abril de 2008

Agora alugara um quarto qualquer em um hotel . De fato, um que estava mais perto do abandono do que de qualquer estrela. Mas não pretendia ficar lá por muito tempo. Na verdade era só uma passagem. Em alguns dias ninguém se lembraria mais de seu rosto por alí.

No reflexo na parede, piscavam luzes vermelhas que entravam pela janela e incomodavam. Mas teria que se acostumar com isso também. Mas não era nada perto dos pensamentos dos últimos dias.

Sua arte era uma negação. Mas a seguia ainda assim. Era confortante escrever. Então escrevia, escrevia, escrevia. Procurava em palavras expulsar seus próprios demônios.

Em pouco tempo, começou a perder totalmente o ritmo e sede para escrita. Sentou na beira da cama com seu violão e procurou ali alguma coisa. Alguma inspiração. Algo que tornasse as letras mais fáceis. Mas depois de tanto tempo, a intimidade com aquele instrumento havia se tornado um reles encontro casual. De 3 a 4 notas corretas que se lembrava, só lhe restava o dedilhado enferrujado e pequenos trechos de algumas canções. Nada que ajudasse.

Procurou então sofrer um pouco, foi para rua, deu a cara-a-tapa, se feriu com pequenas faltas de afeto. Algumas coisas, apenas para ocupar um pouco o cérebro, nada viciante, um pouco de si, muito dos outros. E mais nada.

Agora olhava à janela do hotel. Uma música lhe chama atenção, na verdade um frase: “É inverno no inferno e nevam brasas / Por favor escondam-se todos em suas casas / Pois o anjo caído voa com novas asas.” Sentiu aquilo como uma indireta. Deu um sorriso maldoso de canto de boca. Como se fosse dar um soco, ou um beijo, na boca da quem disse aquilo. Jogou aquela droga toda fora e foi atraz de um resultado para aquela merda.

Foi atraz de uma salvação. Encontrou uma, mas tão na merda quanto ela! “-Gostei.” Única frase que lhe tomava os pensamentos agora. Encontrou olhos que lhe deixavam em transe. Um frio na espinha a cada troca de sorrisos. E algumas dores fortes que lhe tomavam em despedidas.

Mandou o resto pro inferno e resolveu aproveitar o que lhe fazia bem. O hotel já era. A vida já era. Pertencia a um filme, tinha medo apenas de que ele acabasse, o resto, o resto faz parte de uma vida de cão. O resto é resto. E a noite era apenas para quebrar colunas alheias em boa compania. A escrita, agora é apenas uma forma escrota de contar o que estava acontecendo. E ela ainda acreditava em anjos!

Um comentário:

Anônimo disse...

Comentários:
Adorei o texto. Muito bom menina.A angústia de não haver nada que valha a pena ser feito, e não exatamente não te o que fazer.
Ótimo.

Gostei da nova foto também. Muito boa.
Valeu a pena espera tanto tempo por essa atualização.